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Quem trabalha com tubulação industrial já ouviu — ou já especificou — tubos Schedule 10, 40 ou 80. Apesar disso, o real significado do termo Schedule ainda gera confusão. Muitos associam diretamente à pressão, outros acreditam que esses números possuem alguma relação direta com o seu dimensional, mas na prática, não é nem uma nem outra.

Entender o que é um tubo Schedule exige voltar um pouco no tempo e compreender como a engenharia de tubulações evoluiu até os padrões atuais.


A origem do termo “Schedule”

O conceito de Schedule surgiu no início do século XX, em um período em que a indústria ainda não dispunha de códigos de cálculo consolidados, como os atuais ASME B31. Naquela época, era necessário algum tipo de padronização que permitisse distinguir tubos mais “leves” de tubos mais “pesados”, especialmente para aplicações sujeitas à pressão.

Antes do sistema Schedule, os tubos industriais eram classificados por designações de peso, e não por espessura padronizada. As mais comuns eram STD (Standard), XS (Extra Strong) e XXS (Double Extra Strong), que indicavam, de forma empírica, tubos com paredes progressivamente mais espessas e maior robustez mecânica. Esse sistema funcionava como uma referência prática, mas era limitado e pouco flexível.

Com o avanço da indústria e a necessidade de um sistema mais organizado e expansível, surgiu o termo Schedule — no sentido de tabela ou classificação. Ele passou a representar faixas padronizadas de espessura de parede, ainda associadas de maneira empírica à robustez do tubo. Um Schedule maior indicava uma parede mais espessa e, portanto, uma maior capacidade de suportar esforços.

Na prática, muitas das designações antigas foram absorvidas pelo novo sistema. Em diversos diâmetros, o antigo STD passou a corresponder aproximadamente ao que hoje conhecemos como Schedule 40, enquanto XS se aproximou do Schedule 80 e XXS passou a representar espessuras ainda maiores, acima do Schedule 160. Já os tubos mais leves, pouco definidos no sistema antigo, deram origem posteriormente a Schedules mais finos, como o SCH 10, hoje amplamente utilizado em aplicações industriais e de utilidades.

É importante destacar que essas equivalências são históricas e aproximadas. Com o amadurecimento da engenharia de tubulações e o surgimento dos códigos modernos de cálculo, o Schedule deixou de representar uma classe direta de pressão ou peso e passou a ser tratado exclusivamente como uma classificação dimensional de espessura de parede, formalizada nas normas ASME B36.

Em resumo: Schedule nasceu como uma classificação empírica de robustez e evoluiu para um sistema dimensional padronizado, que só faz sentido quando utilizado em conjunto com códigos de projeto e cálculo.


Por que o Schedule deixou de representar pressão

Com o avanço da engenharia, ficou claro que a capacidade de um tubo suportar pressão não depende apenas da espessura da parede. Outros fatores passaram a ser considerados essenciais, como:

A partir desse entendimento surgiram códigos como a ASME B31, que passaram a definir equações de cálculo de espessura mínima, levando em conta todos esses parâmetros.

Nesse momento, o Schedule deixou definitivamente de ser um “rating de pressão” e passou a ser tratado como o que ele realmente é hoje:

uma classificação dimensional de espessura de parede.

A pressão admissível passou a ser consequência do cálculo, e não do número do Schedule.


Schedule como sistema dimensional

A consolidação do Schedule como sistema dimensional aconteceu com a criação das normas ASME B36.10 e B36.19, que passaram a definir:

Assim, o Schedule passou a responder apenas à pergunta:

qual é a espessura nominal da parede para este diâmetro?

E não mais:


Diâmetro nominal × diâmetro real

Essa evolução explica um dos pontos mais contraintuitivos da tubulação industrial:
o diâmetro nominal não é o diâmetro real do tubo.

O DN (Diâmetro Nominal) é uma designação histórica e comercial. Ele serve para identificar a “família” do tubo, mas não corresponde exatamente a nenhuma medida física.

Por exemplo, um tubo com Diâmetro Nominal de 2” ou até mesmo DN 50:

Ou seja:

Essa padronização foi fundamental para garantir compatibilidade entre tubos e conexões, simplificando projeto, fabricação e montagem.


Por que o sistema Schedule ainda é usado

Mesmo sendo um sistema de origem histórica, o Schedule continua amplamente utilizado porque:

Hoje, o entendimento correto é simples:

Schedule não define pressão.
Pressão é definida por cálculo.
Schedule define apenas geometria.

Quando usado em conjunto com normas de fabricação (ASTM) e códigos de projeto (ASME B31), o sistema funciona de forma segura e eficiente.


Conexão com o aço inox e aplicações industriais

No aço inox, essa lógica foi adaptada pela ASME B36.19, que introduziu os Schedules “S” (5S, 10S, 40S, 80S), adequados às propriedades do material e às aplicações de processo e utilidades.

Esses tubos são amplamente utilizados em:

É importante reforçar:
Tubos Schedule em aço inox não são tubos sanitários, mesmo quando fabricados em AISI 304 ou 316. Eles atendem a requisitos mecânicos e dimensionais — não a critérios de acabamento superficial e sanitariedade.


Conclusão

O tubo Schedule é fruto da evolução da engenharia industrial.
Ele nasceu como uma classificação empírica de robustez, evoluiu para um sistema dimensional padronizado e hoje só faz sentido quando interpretado corretamente.

Entender sua origem ajuda a evitar erros comuns de especificação e a usar o Schedule para o que ele realmente é:

uma linguagem dimensional da tubulação industrial — não um atalho para definir pressão ou aplicação.

Nos próximos conteúdos, vamos explorar como as normas dimensionais (ASME B36.10 e B36.19), as normas de fabricação (ASTM A312, A778, A409) e os códigos de projeto (ASME B31) se conectam para formar um sistema coerente de especificação de tubulações.


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